quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018


a morte não conversa
não barganha
a morte não tem agenda
não marca hora
a morte não espera
não usa relógio
a morte apenas chega
passa e leva



sexta-feira, 22 de julho de 2016

A Sesta

Depois de almoçar sinto uma pequena preguiça de voltar para a mesa de trabalho. É o momento de invenção, como costumo dizer! Hoje inventei de conhecer os arredores do prédio da repartição, localizado em área próxima ao aeroporto de Brasília.

Atravessei a catraca com meu crachá azul e branco enroscado no pescoço rumo ao descampado. Após o estacionamento começa a grama verde que, alguns metros à frente, se transforma em um tanto remanescente do Cerrado brasileiro, com suas típicas árvores de galhos secos retorcidos. Uma linda paisagem que poucos admiram, geralmente atrapalhados pela pressa e o foco restrito na labuta ordinária. Resolvi desbravar sem receios, sujar os sapatos, colocar os pés na terra que sustenta o mato ralo.

Já no interior da paisagem percebo que o mais curioso não é a presença do Cerrado no meio da cidade. Curioso mesmo é constatar a existência de vida no resto de Cerrado. E não falo de vida animal, apesar dela estar representada nas filas de formigas carregadeiras e nas famílias de pássaros aninhados nos galhos do antes verde.Refiro-me à vida humana. 

Vários funcionários da repartição ocupam o espaço na hora da sesta. Aproveitam o horário de almoço para o deleite preguiçoso na sombra das retorcidas esculturas naturais. Chegam sozinhos ou em duplas, mais raro em trios. Alguns trazem apenas a roupa do corpo, outros improvisam papelões como assentos. Há, ainda, aqueles mais preparados que carregam colchonetes, panos e garrafinhas d’agua a tiracolo.

São homens e mulheres aculturados pela civilização que não perdem uma oportunidade de retornar aos tempos da vida natural e desaculturada. Eles sabem que o contato com o mundo natural, mesmo que de forma improvisada e pouco selvagem, é privilégio urbano.

Após minha invenção de hoje, penso em me tornar mais um feliz freqüentador da sobra de cerrado durante os solstícios de inverno. Na falta de uma dupla ou trio, levarei um livro. Livros são uma ótima companhia para a sesta solitária, instigam o relaxamento que precede o cochilo.